A liberdade de imprensa e a democracia são mais do que irmãs siamesas, mais do que indissociáveis. Uma simplesmente não existe sem a outra. Não é necessário ser sequer aspirante a jornalista para entender.
Quem está atrasado nessa compreensão (ou não admira tanto as regras citadas) é o governador Rui Costa, o correria. Com apenas um mês ativada, a conta do Política ao Vivo no Instagram já foi bloqueada pelo perfil do gestor baiano. Rápido.
Logo ele, crítico ferrenho de Jair Bolsonaro, acusado de “perseguir a imprensa”, “flertar com a ditadura” e bloquear cidadãos nas redes sociais.
Não existe o meio-termo. O que não é democrático, é autoritário. Quem não é democrático, é autoritário. E se não há resistência, o autoritarismo se legitima.
O Política ao Vivo não foi o primeiro passo do governador baiano rumo ao caminho perigoso do autoritarismo. Quando feriu seus interesses, Rui conferiu ataques e represálias ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) e a seus procuradores.
Em junho, irritado com a decisão judicial que determinou o envio do processo dos respiradores para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador chegou a sugerir que havia interesses próprios do MP por trás do encaminhamento e ainda acionou o Conselho Nacional do Ministérios Público (CNMP). Um dos alvos foi o promotor de justiça Fernando Lucas Carvalho Villar de Souza, responsável por sugerir à juíza Virgínia Silveira, da 2ª Vara Criminal Especializada de Salvador, o envio do processo dos respiradores STJ. O pedido, claro, foi arquivado pelo CNMP.
Mas as represálias não pararam por aí. Pelo menos 28 policiais que estavam cedidos ao MP-BA, Tribunal de Justiça da Bahia e outros órgãos foram convocados pelo governo, em medida, à época, vista por membros destas instituições, como uma clara retaliação. Em meios aos ataques ao judiciário baiano em entrevistas a rádios e TV, o governador só se fazia esquecer um detalhe – que não passou despercebido pelo Política ao Vivo: o processo foi enviado para o STJ porque o Ministério Público alertou para o envolvimento de pessoas com prerrogativa de função.
Não existe diálogo com Rui Costa – uma característica de gestores autoritários. Não existiu diálogo com os alunos que ocuparam o Colégio Estadual Odorico Tavares, em movimento contra o fechamento da escola e a vendo do terreno no bairro com o metro quadrado mais caro de Salvador; não existiu diálogo quando crianças, idosos e adultos que ocupavam o antigo Hospital Couto Maia foram retirados de madrugada do local com Tropa de Choque da Polícia Militar, gás de pimenta e região isolada; não houve diálogo para a construção da PEC da Previdência baiana.
Bloquear o perfil do Política ao Vivo não vai prejudicar o conteúdo deste veículo, que continuará se negando a confundir jornalismo e publicidade. O Política ao Vivo sempre foi esse grito solitário no jornalismo político da Bahia e vai continuar sendo, com perfil bloqueado ou não. O que se discute aqui é o que tudo isso significa. A defesa pela democracia e liberdade de imprensa deve ser um valor absoluto e não apenas quando convém. Uma fantasia de imperador também pode ter diferentes cores. Sua única exigência é a falta de diálogo e a defesa de interesses próprios.