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O retorno de Ciro Gomes ao debate nacional ocorre em um contexto de reconfiguração do campo político brasileiro, marcado pela inegibilidade de Jair Bolsonaro e pela consolidação de uma nova direita em torno de nomes como Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior e Romeu Zema. Ao voltar a figurar nas pesquisas de intenção de voto — com 13% em um cenário sem Bolsonaro, segundo levantamento da Quaest (setembro/2025) — Ciro reaparece como uma figura de transição: um político que sobrevive ao colapso das antigas mediações partidárias, mas ainda sem conseguir se reinventar plenamente dentro do novo ciclo de polarização.



Ex-ministro, ex-governador e candidato à Presidência em quatro ocasiões, Ciro Gomes construiu sua trajetória sobre um discurso desenvolvimentista, ancorado na ideia de que o Estado deve ser indutor do crescimento econômico e da soberania nacional. Essa narrativa, que nos anos 2000 o diferenciou dentro da esquerda, passou a perder lastro político e emocional com o avanço das novas direitas e o enfraquecimento das forças de centro. O resultado é uma perda de densidade eleitoral: de 13,3 milhões de votos em 2018 para 3,6 milhões em 2022.

O colapso de um campo discursivo

A trajetória de Ciro, entre 1998 e 2022, mostra avanços pontuais e recuos estruturais. Seu melhor desempenho nacional se deu em 2018, quando conseguiu se projetar como uma alternativa competitiva à polarização entre Lula e Bolsonaro, especialmente no Nordeste, onde obteve votações expressivas no Ceará, Piauí e Paraíba. No entanto, em 2022, a pressão pelo voto útil no primeiro turno desidratou essa base: os 13 milhões de votos conquistados quatro anos antes migraram quase integralmente para Lula.

O comportamento digital reflete esse encolhimento. O pico de buscas por Ciro em 2025 não foi motivado por uma guinada programática, mas por um episódio de conflito pessoal — o pedido de prisão preventiva após ataques verbais a uma prefeita. Seu engajamento no Instagram e no Facebook demonstra uma base restrita, concentrada no Ceará, e marcada por um declínio gradual de interações. Entre os 788 comentários analisados, 44,5% foram positivos — um índice razoável, mas insuficiente para projetar expansão eleitoral.

O impasse da terceira via

As projeções para 2026 colocam Ciro diante de três caminhos: disputar o Governo do Ceará, ser vice em uma chapa de centro/direita ou tentar reconstruir a chamada “terceira via”. Em qualquer hipótese, há um teto objetivo de crescimento. Mesmo monopolizando o voto antipolarização, o limite estatístico gira entre 7% e 10%, insuficiente para romper o binarismo lulismo versus direita bolsonarista.

A hipótese de se tornar vice em uma chapa de centro/direita representa o maior desafio ideológico e estratégico de sua carreira. A aliança com um nome como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema ou Ratinho Junior exigiria de Ciro um reposicionamento profundo, com o abandono da centro-esquerda e da retórica nacionalista que o consagrou.

Seu papel, nesse contexto, seria o de “ponte simbólica”: servir de gancho ideológico entre a direita econômica e a esquerda desenvolvimentista. O movimento teria efeitos mistos. De um lado, agregaria credibilidade programática — especialmente em temas como planejamento estatal, infraestrutura e política industrial — e facilitaria o diálogo da chapa com setores empresariais e sindicais. De outro, representaria um custo alto em coerência e identidade, uma vez que o eleitorado de centro-esquerda tenderia a rejeitar a aliança como sinal de capitulação.

Peso qualitativo e limites eleitorais

A participação de Ciro como vice não ampliaria substancialmente o voto total da chapa, mas poderia agregar valor qualitativo. Sua presença neutralizaria a narrativa de que a candidatura seria expressão da “pura extrema-direita”, permitindo um discurso de moderação e racionalidade econômica.

Entretanto, a performance final da chapa dependeria essencialmente da força do cabeça — seja Tarcísio, Zema, Ratinho ou Caiado. O efeito Ciro seria tático, e não transformador: útil para suavizar a imagem, mas incapaz de reconfigurar o eleitorado.
Na prática, o risco seria duplo: anular a base histórica de Ciro — construída sobre a crítica à direita neoliberal — e não conquistar plenamente o eleitorado de centro/direita, que ainda o enxerga como um “ex-petista ressentido”. Trata-se, portanto, de uma estratégia de alto risco e baixo retorno, mais útil para a comunicação da chapa do que para o fortalecimento de sua própria trajetória política.

Yuri Almeida é professor, estrategista político e especialista em marketing eleitoral



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