Attíla Torres

A Justiça da cidade de Campo Mourão, no Paraná, está movendo uma ação civil pública contra o apresentador Aldery Ribeiro, que no último dia 30/04 proferiu ofensas contra pessoas com deficiência em um programa de televisão. 



A ação movida pela 3ª Promotoria de Justiça de Campo Mourão pede a retirada do vídeo do site da emissora e condenação dos envolvidos — Aldery Ribeiro e a emissora, que também é ré no processo — ao pagamento de R$ 200 mil por danos morais coletivos, valor a ser revertido para o Fundo Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Como os crimes definidos no Estatuto da Pessoa com deficiência são de ação pública incondicionada (independem de prévia manifestação de qualquer pessoa para ser iniciada pelo Ministério Público) o inquérito cível já foi compartilhado com a Promotoria Criminal, que deverá se posicionar sobre a possibilidade do apresentador também responder a processo criminal. Portanto, além do processo cível, Aldery Ribeiro também pode ter que responder em esfera criminal pelas suas declarações.

A gravidade da situação é tamanha que, pela questão ter sido veiculado em meio de comunicação (artigo 88, § 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência), o crime tem a previsão de pena de reclusão com período de 2 a 5 anos. A TV Carajás já se antecipou e retirou do ar o material antes que fosse feita a análise no inquérito. Por este motivo, cabe aqui a solicitação de que as pessoas não compartilhem este tipo de material, para evitar a disseminação de conteúdos preconceituosos, bem como para não serem cúmplices de tais atitudes.

Enquanto apresentava o programa “TV em Ação“, ele comparou discussões em redes sociais com competições paralímpicas:

“Opinião minha, particular, eu tenho certeza que muita gente não concorda ou critica, eu respeito, mas pra mim é o seguinte: discutir em rede social é igual participar das paraolimpíadas. Você pode até ganhar, mas continua deficiente e com pouca visibilidade e não é exaltado e aplaudido como os outros”, disparou o comunicador.

Não satisfeito em proferir tais absurdos uma primeira vez, ele ainda repetiu as ofensas e completou o discurso se referindo a pessoas com deficiência como “aleijados”:

“Então não adianta, eu vou brigar? Pra mim eu penso assim: discutir em rede social é igual participar de competição para paraolimpíada. Você ganha e continua deficiente, aleijado, de que adianta? E os outros não te aplaudem, não te exaltam e muito menos dá o valor que você merece”, seguiu Ribeiro

Utilizando-se de discurso capacitista, com argumentos rasos, palavras inadequadas e comparações menos acertadas ainda, o apresentador mostrou completo desrespeito e também despreparo, principalmente por sua posição como figura pública e formador de opinião.

Como pode um representante da imprensa, uma pessoa que, ao menos teoricamente, tem formação e informação em mãos, ir na contramão de tudo o que as pessoas que trabalham com Esporte vêm lutando no sentido da valorização do Esporte, da valorização da prática da Educação Física e da atividade física. Sobretudo para os atletas paralímpicos. 

Uma pessoa pública que faz uma declaração dessas demonstra não ter conhecimento e consciência de todos os esforços embutidos nas conquistas de todos os atletas. Inclusive, cabe lembrar que os obstáculos que muitos atletas paralímpicos têm que vencer são muito maiores que outras pessoas. Não só em quesitos físicos, mas também superação emocional, dificuldades com patrocinadores, entre outros.

As modalidades paralímpicas servem como ferramenta de inclusão social, abrindo as mentes mais fechadas, para que reconheçam o valor e a capacidade de portadores de deficiência, rompendo preconceitos, além de fazerem com que crianças e jovens deficientes saiam de si mesmos, superem quaisquer complexos de inferioridade e vivam. E a sociedade passa a perceber também a obrigatoriedade de tornar mais acessíveis aos deficientes seus meios de transporte, edifícios, calçadas e estabelecimentos comerciais e etc.

É no esporte, que muitas pessoas com deficiência encontram a força necessária para se superarem.  Tratar estas pessoas como “aleijados” e dizer que suas conquistas de nada valem, além do preconceito em si, também demonstra descaso e total falta de consciência com os esforços de todos os envolvidos e toda a comunidade esportiva. 

A punição nestes casos deve servir não só para evitar seja difundido o preconceito, mas também como medida educativa para que tanto o apresentador, como outras pessoas, tomem ciência da importância do exemplo dos atletas paralímpicos na inclusão social. Mostrando que a persistência e superação das pessoas com deficiência também refletem em exemplos positivos em suas vidas e a das pessoas à sua volta: amigos, familiares, treinadores e torcedores. 

A educação forma e a mídia são meios de  transformação de paradigmas, estereótipos e preconceitos. Se um apresentador demonstra tamanha falta de consideração e respeito para com as demais pessoas, este é um ato extremamente condenável. Se este preconceito for contra um grupo em específico e usando de um meio de comunicação, a gravidade do ato é ainda maior.

Mônica Veloso (@paratletamonicaveloso), atleta paraolímpica que nos apoia nesta nota de repúdio, declarou: “Em qual deficiência se enquadra um cidadão que acha que um deficiente é um lixo? Em qual status esse mesmo cidadão foi colocado e se achou no poder e no direito de jogar no esgoto todo o esforço, determinação, e principalmente o valor de uma conquista e o sabor de uma vitória? As Paralimpíadas não é um consolo! As vitórias dos paratletas não só nos esportes, mas no dia a dia, foram alcançadas com atitudes e coragem inimagináveis para um cidadão chamado Aldery Ribeiro. Suas palavras chegam ao grau da ofensa e diminuem o esforço gigante que enfrentamos para estar em cada competição. E para muitos induz ao questionamento sobre nosso próprio valor. Faz no primeiro momento, nos sentirmos um Nada!”

Verônica Almeida (@veronicalmeidaatleta), Atleta Paralímpica que também nos apoia neste movimento, assim se manifestou: “Precisei me manifestar e expressar o meu descontentamento e repúdio com tamanha falta de sensibilidade, respeito e humanidade. É nojenta e absurda a forma como o apresentador Aldayr Ribeiro se posiciona em relação às pessoas com deficiência. É lamentável no momento que vivemos, assistir uma reportagem sem nenhuma propriedade direcionada à nos atletas paralímpicos. Que comentário medíocre e triste ele faz com algo que repudio na internet usando como parâmetro de comparação as Paralímpiadas.  Vale lembrar que, além do maior evento do Mundo, as Paralímpiadas têm uma força transformadora que é imensurável para quem assiste ou participa. ‘Que ganha continua deficiente’… Escutar isso me fez sentir extremamente humilhada. Foi violento e machucou muito à todos nós atletas paralímpicos, que carregamos histórias lindas de superação e, mesmo diante de todos os obstáculos, desenvolvemos com maestria e perfeição nossa representação em um cenário mundial! Mais sensibilidade. Mais amor ao próximo!”

Ricardo Serravalle (@ricardoserravalle), atleta paralímpico e recordista mundial, também signatário desta nota de repúdio: “Deficiente é a visão que esse senhor tem do ser humano.  Uma pessoa que ocupa um cargo de comunicador jamais poderia proferir tais palavras. No fundo o único que fez foi denegrir a sua própria imagem e nos dar ainda mais espaço para levantar nossa bandeira de luta e superação através dessa belíssima ferramenta que é o esporte. O único que espero é que receba uma punição exemplar por parte da  justiça e da emissora, que se arrependa e peça publicamente desculpas pelo infeliz comentário.”

Repudiamos veementemente as declarações e respostas ofensivas do senhor Aldery Ribeiro e reiteramos que as mesmas servem tão somente para prestar desserviço a todos os paratletas, aos esforços deles e suas conquistas. Reiteramos a importância de não divulgação do vídeo, primeiramente como parte do pedido constante no inquérito (portanto o compartilhamento de tal material pode ser enquadrado como criminoso também) e para evitar a disseminação de material de conteúdo preconceituoso.

Ao utilizar-se de posição de apresentador, de formador de opinião para disseminar discurso ofensivo e carregado de preconceitos para todos os atletas e também para os deficientes físicos no geral, o apresentador foi extremamente infeliz e demonstrou falta de informação sobre a realidade dos paratletas e da importância de seus exemplos de superação não só para a classe, mas para todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência. 

Atitudes preconceituosas são exemplo descaso com todas as conquistas e resultados na inclusão social que a visibilidade dos esportistas paralímpicos. Os atletas paralímpicos querem ser reconhecidos como pessoas produtivas e eficientes assim como qualquer outro cidadão e palavras como a do apresentador devem ser rechaçadas com veemência pelo seu desserviço.

Não aceitaremos que este tipo de atitude passe incólume.

 

Presidente do Podemos Esporte Bahia, Educador Físico, Gestor Esportivo, Administrador, Grão Mestre em Taekwondo. Condutor da Tocha Olímpica nas Olimpíadas do Rio 2016, Especialização nos Estados Unidos e Coreia do Sul.



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